Conferência preparatória da COP30 deixa principais impasses de Belém sem solução; entenda em 5 pontos

  • 27/06/2025
(Foto: Reprodução)
Evento-chave da cúpula climática terminou nesta quinta-feira (26), na Alemanha, frustrando expectativas de ambientalistas e elevando a pressão sobre o Brasil para entregar resultados concretos na próxima rodada global de negociações do clima. Registro de um evento conjunto no último dia 24 de junho entre os países que organizaram a última, organizam a atual e vão sediar a próxima conferência do clima (COP 28, COP 29 e COP 30). IISD/ENB - Kiara Worth As negociações preparatórias para a COP30 terminaram nesta quinta-feira (26) em Bonn, na Alemanha, sem resolver questões centrais para a conferência climática que acontecerá em Belém em novembro deste ano. Durante duas semanas, delegados de 200 países discutiram documentos que servirão de base para as negociações na capital paraense. Contudo, a conferência alemã que deveria preparar o terreno para acordos na COP30 esbarrou em impasses sobre financiamento climático, adaptação e transição energética. Com isso, o Brasil, que presidirá a COP30, não conseguiu destravar agendas fundamentais. Na segunda semana da pré-conferência, as delegações avançaram em alguns textos, como os de transição justa e mitigação e um consenso sobre indicadores globais de adaptação foi alcançado após dias de discussões. Ao fim, os países também aprovaram um aumento de 10% no orçamento do órgão climático da ONU (entenda mais ABAIXO). No entanto, questões-chave que travam há anos as negociações climáticas continuaram sem solução e, por causa disso, a COP30 enfrentará esses mesmos impasses estruturais. “Não vou embelezar a realidade, ainda há muito a fazer antes de nos encontrarmos em Belém”, disse Simon Stiell, secretário da ONU para o Clima, ao fim das reuniões preparatórias. Abaixo, entenda em 5 pontos os resultados de Bonn e as expectativas em torno da conferência brasileira: Por que o financiamento climático travou as negociações? O que aconteceu com a agenda de adaptação climática? Como ficou a questão dos combustíveis fósseis? Qual foi o papel do Brasil nas negociações? O que esperar da COP30 após os resultados de Bonn? 1. Por que o financiamento climático travou as negociações? De modo geral, o financiamento para ações climáticas em países em desenvolvimento foi o principal obstáculo da conferência, oficialmente chamada de 62ª Sessão dos Órgãos Subsidiários da UNFCCC (SB62). Apesar da meta de mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano até 2030, mesmo após semanas de negociação, ainda não existem mecanismos claros dessa implementação. A questão permanece sem solução há anos e, na COP29, em Baku, os países em desenvolvimento já haviam expressado forte insatisfação com as metas financeiras apresentadas. O texto final da conferência previu US$ 300 bilhões anuais, muito abaixo do que esses países consideram necessário. 📝 ENTENDA: Países em desenvolvimento argumentam que precisam de recursos para implementar metas climáticas e se adaptar aos impactos do aquecimento global. Isso acontece porque essas nações contribuíram menos historicamente para as emissões, mas enfrentam hoje os efeitos mais intensos das mudanças climáticas. Em Bonn, esse tema acabou sendo colocado na mesa como uma espécie de moeda de troca: em vez de avançar de forma significativa, alguns países usaram o debate sobre ele como uma forma de pressionar por concessões ou travar progressos em outras áreas das negociações, o que acabou limitando o nível de ambição geral do processo. A estrada construída para a COP30 em Belém que vai desmatar a Amazônia Alexandre Prado, líder de mudanças climáticas do WWF-Brasil, explica que o tema do financiamento sempre foi um dos principais pontos de tensão dentro da Convenção do Clima. “Desde que ela foi criada, lá em 1992, essa questão do financiamento dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento já aparecia nas primeiras cópias e documentos. É isso que permeia uma parte enorme desse processo todo”, diz ao g1. Ministro de Tuvalu grava discurso para COP 26 de dentro do mar em protesto contra risco de ilha desaparecer. Governo de Tuvalu Ele lembra que a lógica da Convenção se baseia nas chamadas responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Ou seja: os países desenvolvidos, que historicamente emitiram mais gases de efeito estufa, devem justamente liderar e apoiar a transição nos países em desenvolvimento. “Por isso foram criados vários mecanismos ao longo do tempo. O Protocolo de Kyoto foi um deles, com mecanismos de flexibilização e de mercado de carbono, permitindo investir em projetos em países em desenvolvimento. E isso avançou depois no Acordo de Paris”, relembra Alexandre. Mas esse compromisso de apoio financeiro nunca foi cumprido de forma satisfatória. A expectativa era de que a COP de Baku trouxesse um encaminhamento mais claro, mas o que se viu foi um resultado ainda mais vago. Por isso, o tema voltou com força às discussões em Bonn e esteve presente em diversas mesas de negociação. A esperança agora é que a COP30 consiga resolver essa equação financeira para permitir avanços em outras agendas. Organizações ambientais também apostam na cúpula do BRICS+, prevista para ocorrer ainda este ano, como uma alternativa para destravar recursos. Há um sentimento generalizado de frustração entre os países em desenvolvimento, já que a promessa de financiamento feita há mais de três décadas ainda não se concretizou. Embora outros temas tenham avançado, todos acabam travando na falta de recursos — e foi isso que se viu em Bonn. O assunto dominou os primeiros dias e deve voltar com força na COP30, em Belém. 2. O que aconteceu com a agenda de adaptação climática? Em Bonn, os países também não conseguiram muitos avanços no tema da adaptação às mudanças climáticas, apesar de uma década de negociações para definir essas metas globais. O chamado Objetivo Global de Adaptação (GGA) foi criado justamente para orientar e medir o progresso dos países na adaptação aos efeitos do clima, mas, até agora, as discussões seguem travadas. O principal impasse envolve a definição dos indicadores de progresso e o financiamento para adaptação. Por um lado, existe uma lista extensa de indicadores que precisam ser selecionados e reduzidos para que sejam práticos e úteis para todos os países. Por outro, há divergências profundas sobre como garantir recursos financeiros para que as nações mais vulneráveis possam implementar ações de adaptação. O tema, contudo, ganhou urgência diante dos impactos já sentidos por milhões, como enchentes, secas e ondas de calor, que atingem especialmente populações vulneráveis e cidades sem infraestrutura adequada. Com isso, os negociadores reduziram mais de 500 propostas para 100 indicadores práticos (critérios para medir se os países estão realmente se preparando para os impactos climáticos), chegando a um consenso nos últimos dias da conferência. No entanto, o financiamento para adaptação segue indefinido, com países desenvolvidos mantendo posições rígidas, frustrando as prioridades das nações em desenvolvimento. Com essa disputa, o GGA tem ficado restrito à definição de indicadores e à estrutura institucional, o que mantém o tema em um impasse. E especialistas argumentam que se essas questões não forem resolvidas na COP30, comunidades vulneráveis poderão ficar sem suporte para enfrentar os impactos climáticos mais severos desse planeta em transformação, agravando sua vulnerabilidade. "Os acontecimentos climáticos extremos estão chegando cada vez mais perto. O ano passado no Brasil foi assustador, e o que aconteceu em Porto Alegre explicou ao brasileiro a diferença da adaptação. Muito do que ocorreu poderia ter sido evitado se políticas de adaptação tivessem sido incorporadas à infraestrutura", declarou em fevereiro André Corrêa do Lago, presidente da COP30. LEIA TAMBÉM: Como a recente descoberta do primeiro clima árido no Brasil pode impactar o restante do país Hotéis em Belém cobram diárias até R$ 5.700 para COP 30, e governo federal apura se aumentos são abusivos Brasil precisa reduzir em 92% emissões de gases de efeito estufa até 2035, diz Observatório do Clima Lula afirma que Marina Silva não vai se opor à exploração de petróleo na Bacia da Foz do Rio Amazonas 3. Como ficou a questão dos combustíveis fósseis? A chamada transição longe dos combustíveis fósseis enfrentou forte resistência, especialmente de países produtores de petróleo, que na COP29 também tentaram evitar diretrizes mais rígidas para o fim do uso dessas fontes de energia. No ano passado, o texto final e os compromissos assumidos ficaram aquém do que especialistas consideram necessário para enfrentar a urgência do fim do carvão, petróleo e gás. Cientistas e especialistas defendiam o uso da expressão "phase out" (eliminação dos combustíveis fósseis), mas o documento optou por uma linguagem mais branda, falando em “transition away from” (transição para longe), ainda que isso represente um avanço histórico: foi a primeira vez desde 1994, quando a Convenção do Clima da ONU entrou em vigor, que os países reconhecem a necessidade de abandonar esses combustíveis em seus sistemas energéticos. O foco do documento está na transição para sistemas de energia de emissões zero ou baixas, com uso de tecnologias renováveis, nucleares e de captura e armazenamento de carbono. No entanto, o texto não estabelece metas gerais, deixando para cada país a responsabilidade de elaborar ou atualizar seus próprios compromissos nacionais. Apesar dessa resistência, o tema permaneceu nas negociações em Bonn, onde três propostas de texto foram apresentadas, ainda sem definição sobre qual será adotada. Queima de combustíveis fósseis é uma das principais causas do aquecimento global. Divulgação - Pixabay. 4. Qual foi o papel do Brasil nas negociações? O Brasil chegou a Bonn com grandes expectativas, respaldado por sua reputação como articulador internacional e pela responsabilidade de sediar a COP30. No entanto, para alguns especialistas, sua atuação inicial ficou abaixo do esperado, sem conseguir destravar agendas importantes nos primeiros dias. "Em Bonn, o Brasil demonstrou disposição para ouvir, engajar todas as partes e buscar consenso, mobilizando diplomatas experientes e mantendo um diálogo persistente desde o início. No entanto, impasses geopolíticos e decisões lentas mostram que a diplomacia climática precisa ir além da boa vontade", avaliou a especialista em política internacional do Greenpeace Brasil, Camila Jardim. Por outro lado, Claudio Angelo, coordenador de Comunicação do Observatório do Clima (OC), avalia que houve avanços concretos nas negociações, especialmente considerando o que costuma sair das reuniões intermediárias como a de Bonn. Segundo ele, apesar das dificuldades e da lentidão em algumas frentes, o Brasil conseguiu entregar resultados importantes nas suas principais prioridades, como adaptação e transição justa. “Essa foi a primeira prova real da presidência brasileira, e ela não foi reprovada”, pontua. Ele destaca ainda que, mesmo com textos que não foram perfeitos, os negociadores brasileiros conseguiram garantir que nada foi perdido — e que o debate continua vivo até Belém. Por isso, ele avalia que o saldo de Bonn não garante o sucesso da COP30, mas aumenta suas chances. Na cúpula, a presidência brasileira também apresentou a quarta carta da COP30, propondo uma agenda climática estruturada em seis eixos, com 30 ações que abrangem áreas como agricultura, transporte, infraestrutura, biodiversidade e oceanos. A estratégia destaca a necessidade de envolver não apenas governos, mas também sociedade civil e setor privado, reconhecendo que a crise climática exige a participação de múltiplos atores para ser enfrentada com eficácia. Organizações ambientais, contudo, esperam que o país una sua habilidade diplomática à visão estratégica para pressionar por resultados concretos, atuando como catalisador da ambição climática e não apenas como facilitador das negociações. Obras no Parque da Cidade, em Belém, para a COP30. Cássio Matos/Agência Pará 5. O que esperar da COP30 após os resultados de Bonn? Ainda segundo especialistas, de forma geral, os resultados limitados de Bonn aumentam a pressão sobre a COP30 para entregar avanços concretos. Por causa desses impasses, agora a conferência de Belém terá que enfrentar questões que travam há anos sem soluções práticas. Apesar disso, Alexandre Prado acredita que “o Brasil tem a troika de levar o mapa do caminho” e espera que a COP30 ofereça um pouco de alívio nesse processo, com novas discussões sobre dívida, perdão e redução de risco de empréstimos para países em desenvolvimento, além da governança dos mecanismos globais de financiamento climático. Ele ressalta, no entanto, que o contexto atual é difícil, citando a saída dos Estados Unidos e a redução da ajuda internacional na Europa devido a investimentos em segurança, o que gera um ponto de tensão grande para Belém. O Brasil vai ter que trabalhar bastante nesse segundo semestre para ter uma boa conclusão em Belém. Se isso não for bem encaminhado, ou pelo menos não houver um mapa claro, corre-se o risco de travar a COP como um todo ou, no mínimo, comprometer parte importante dos demais resultados. LEIA TAMBÉM: Aquecimento dos oceanos causará impacto por milênios, diz órgão meteorológico da ONU Brasil perdeu 30 milhões de hectares por causa de queimadas em 2024; Amazônia é a mais afetada Lewandowski propõe criar crime de 'ecocídio' para punir crimes ambientais com até 40 anos de prisão

FONTE: https://g1.globo.com/meio-ambiente/cop-30/noticia/2025/06/27/conferencia-preparatoria-da-cop30-deixa-principais-impasses-de-belem-sem-solucao-entenda-em-5-pontos.ghtml


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